Estudos Culturais e Filosóficos do Superman

27/02/2014 19:01

Estudos Culturais e Filosóficos do Superman

(Escrito por: Vitor Martins Menezes)
 
(OBS: O texto a seguir foi um trabalho de pesquisa submetido e aceito no 21º Simpósio Internacional de Iniciação Científica da USP (SIICUSP). O mesmo também foi apresentado oralmente por Vitor Martins Menezes no 21º SIICUSP. E teve como Orientador o Professor Luís Paulo Piassi (Livre Docente da USP))

 

        Os Super-Heróis são personagens do gênero da Ficção que estão claramente presentes na cultura pop. Esses personagens são amplamente encontrados em filmes, desenhos, seriados e principalmente nas Histórias em Quadrinhos.

        As Histórias em Quadrinhos (HQ’s) – também conhecidas como “Bandas Desenhadas” e como “Gibis” – são, sem dúvidas, uma das formas de linguagem mais influente e presente da cultura pop. Pelo fato de possuir uma mídia barata e de grande alcance, o impacto cultural dos quadrinhos foi imediato e duradouro. As HQ’s foram, e ainda continuam sendo, ferramenta de grande importância na construção do imaginário coletivo dos povos ocidentais e orientais (PATATI E BRAGA, 2006).

        As HQ’s que envolvem Super-Heróis, de certa forma, não deixam de abortar claramente temas da Ficção-Cientifica – gênero que nasceu como uma narrativa literária, mas com o passar do tempo se expandiu para outros meios como filmes, seriados, games e até mesmo as Histórias em Quadrinhos (ARAGÃO, 2012).

            Na maioria das vezes, as melhores HQ’s de super-heróis, mesmo que o público não perceba, abordam temas que cercam a vida dos seres humanos, exemplo: os nossos medos. (MORRIS; MORRIS, 2009). Já no inicio, e até os dias atuais, as publicações das HQ’s de Ficção-Científica também abordam temas que extrapolam os limites da tecnologia, como por exemplo: robôs altamente tecnológicos, viagens espaciais, entre outros mais (NASCIMENTO, 2013). Além de abordarem perguntas para reflexão, como: O que você faria se descobrisse que possui superpoderes ? Ou seja, seria preciso grandes responsabilidades se isso viesse a acontecer (MORRIS; MORRIS, 2009).

            Um dos personagens mais conhecidos das HQ’s é o Superman, que possui uma vasta ideia filosófica; que será tratado a seguir

        De inicio, vale ressaltar, que os primeiros esboços, feitos por Jerry Siegel e Joe Shuster em 1933, do Superman, eram diferentes dos que somos acostumados a ver nos dias atuais. O Superman não era um herói, mas sim um vilão que ganhou poderes de um cientista louco. Já no ano de 1934 tudo mudou e o personagem foi recriado, e se tornou o herói, que nasceu em Krypton, e ainda bebê chegou a Terra (MUNDO DOS SUPER HERÓIS, 2006).

            Superman, sem dúvidas foi uma criação que serviu fortemente para confortar a sociedade, que em diversas épocas de lançamentos de seus HQ’s passavam por momentos difíceis, como por exemplo: a Segunda Guerra Mundial. E por ser um excelente exemplo de grande super herói, – por ter as definições de tal, como ser forte, bonito, inteligente, etc. – acabava por de certa forma, mostrando para a sociedade que ela poderia ter algo no qual eles poderiam se confortar e acreditar. Além de poderem se inspirar nele para tomarem algumas atitudes boas.

            Segundo Mark Waid, o Superman se tornou uma instituição cultural. Além de ser um epítome do altruísmo. Que na maioria das vezes, coloca as necessidades das outras pessoas em primeiro lugar. Mas ao analisar isso, surge uma pergunta: “Será mesmo que ele coloca as necessidades dos outros em primeiro lugar ?” (MORRIS, MORRIS, 2009).

            Mesmo sendo um excelente exemplo de heroísmo altruísta, por incrível que pareça, o Superman não age da forma que age colocando as outras pessoas em primeiro lugar. Ele consegue ser esse excelente exemplo de herói altruísta agindo em seu próprio interesse. Ele ajuda quem está em perigo porque sente um forte dever moral; age dessa forma pois os seus instintos naturais e a sua formação no interior dos EUA fazem com que ele haja em prol desses atos de moralidade (MORRIS; MORRIS, 2009).

            É claramente possível de se perceber que Superman é um herói, afinal, ser um herói não é apenas se fantasiar em um belo collant ou ter poderes. Mas ser um herói, segundo Jeph Loeb e Tom Morris, é também, pertencer a um ativismo altruísta e se dedicar ao que é bom. Além de ser capaz de realizar diversos sacrifícios para que determinada coisa venha a acontecer. (MORRIS; MORRIS, 2009). A imagem abaixo retrata melhor algumas características que encontramos com facilidade nos Super Heróis; e em amarelo características que as vezes nos passam despercebidas, mas que também são importantes (ambas as características são encontradas no Superman).

            O Superman precisa realizar diversos sacrifícios para seguir sua jornada. Como por exemplo: deixar a casa de seus pais, a cidade onde cresceu e a garota com quem tinha um vínculo especial. E para realizar tais sacrifícios é preciso ter uma certa habilidade, que acaba por ser uma virtude esquecida por grande parte da sociedade atual. Pois apenas se vê o sacrifício pelo seu lado negativo; e nunca se vê que se realizarmos determinado sacrifício poderemos ter uma “recompensa”. O sacrifício, de certa forma, é um pagamento adiantado ou custo muito alto para que determinado coisa venha a se realizar (MORRIS; MORRIS, 2009).

            Além de tudo, o Superman precisa exercer uma autodisciplina sobre si mesmo, para usar de maneira eficaz e moderada sua força. E se por um acaso, nós seres humanos obtivéssemos esses poderes, mais dúvidas teríamos, como por exemplo: “Como vou usar essa força ?”, “E se alguém descobrisse que eu tenho esse determinado poder ?”. Várias dúvidas, provavelmente, surgiriam em nossa mente. E seria mais do que necessário sabermos lidarmos com elas, para que determinado poder, seja ele qual for, fosse usado da melhor maneira possível. Afinal, grandes filósofos afirmam que os seres humanos são criaturas de hábitos; logo precisaríamos ter uma excelente autodisciplina para não entramos em uma rotina de uso excessivo da força em todas as situações (MORRIS; MORRIS, 2009).

            Retomando o ponto em que o Superman age em beneficio aos outros para que ele mesmo se sinta bem, podemos dizer que ele age dessa forma por sentir a necessidade de pertencer a um local/sociedade. O desejo de pertencer, de fazer parte, é um aspecto fundamental para o ser humano. Os psicólogos dizem que sentimos essa grande necessidade de pertencer pelo motivo vital de nosso bem-estar; que é uma necessidade que fica atrás apenas de nossas necessidades fisiológicas, e para as necessidades de seguranças. Necessidades essas que podem ser “burladas” facilmente pelo Superman (MORRIS; MORRIS, 2009).

            Mesmo que não tenha nascido no Planeta Terra, o Superman passou grande parte de sua vida nela. E acabou por adquirir gostos e hábitos dos seres humanos. Tanto que podemos notar claramente que ele possui uma necessidade de pertencer pelo motivo de que ele não viaja pelo espaço a fora, mas sim se “disfarça” de Clark Kent, como um jornalista, para que possa fazer parte de uma sociedade a qual ele tanto adora, a dos seres humanos. Logo podemos deduzir que ele realmente é um excelente exemplo de herói altruísta, mas agindo assim por interesse próprio; pois não vemos Kal-El “dando as costas” para a sua herança alienígena, muito pelo contrário: ele só se sente “ele mesmo”, quando ele usa e coloca em prática os seus “poderes”. E fazendo isso, todos, inclusive os humanos, saem ganhando (MORRIS; MORRIS, 2009).

            O grande Filósofo Aristóteles, pretendia descobrir a razão/raiz da felicidade, e para isso ele começou a explorar o que é viver com excelência. E é dessa forma, vivendo com excelência, que o Superman vive (MORRIS; MORRIS, 2009).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1. LIVRO: "Almanaque Dos Quadrinhos: 100 Anos De Uma Mídia Popular" (Editora: Ediouro, 2006). Autores: Carlos Patati e Flávio Braga.

2. REVISTA: Mundo dos Super Heróis (v. 1, n.1, agosto de 2006). ARTIGO: "Super Dossiê (1) - Superman no quadrinhos".

3. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO: "Quarteto Fantástico: ensaio de física, histórias em quadrinhos, ficcção cintífica e satisfação cultural". Autor: Francisco Nascimento Junior.

4. LIVRO: "Super Heróis e a Filosofia: Verdade, Justiça e o Caminho Socrático" (Editora: Madras, 2009). Autores: Matt Morris e Tom Morris.

5. ARTIGO CIENTÍFICO: "Visões Do Pretérito: a Ficção Científica nos quadrinhos brasileiros no século 20". Autor: Octavio Carvalho Aragão Junior.

 

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